terça-feira, 17 de agosto de 2010

PMs viram 'príncipes' em baile de debutantes em UPP no Rio

Vestidos e maquiagem feitos por profissionais, DJ, valsa e o mais importante: sorrisos sinceros e emocionados. Com príncipes que até bem pouco tempo eram vistos como ameaça de confronto na comunidade - oficiais da Polícia Militar e até o secretário estadual de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame - o primeiro baile de debutantes organizado por uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), a do Morro da Providência, não deveu nada a cerimônias particulares e arrancou elogios na noite de sábado. O sucesso foi tão grande que a PM já admite realizar eventos semelhantes em outras favelas com UPPs.

A festa de 15 jovens para 200 convidados, realizada no Centro Cultural José Bonifácio, na Gamboa, foi idealizada pelo comandante da unidade, o capitão Glauco Shorcht, e financiada por nove empresas privadas. Ao lado de outros 13 comandantes e subcomandantes de UPPs e de Beltrame, Glauco foi um dos "príncipes" das debutantes, escolhidas em cadastros de programas sociais e por critérios como aproveitamento e frequência escolar.

"Já tinha participado de baile de debutantes como cadete e achava que sabia dançar, mas, nos ensaios, o coreógrafo me mostrou que na verdade eu não sabia nada. Nunca tinha organizado nem festa de aniversário, mas deu tudo certo", disse o capitão Glauco.

Cada menina levou 10 convidados. Na hora da valsa, o salão principal do evento ficou apertado por causa da presença de muitos fotógrafos e cinegrafistas, alguns estrangeiros.

Nada parecia estragar a felicidade das adolescentes, que foram surpreendidas no dia da celebração com a informação que não dançariam com os soldados da UPP com quem ensaiaram a valsa, e sim, com os oficiais. "Se alguma coisa der errado, a gente que vai ter que conduzi-los", disse Larissa Gomes, uma das "princesas".

O momento mais importante da noite aconteceu ao som de "Valsa de uma cidade", tocada pela Banda 190, da PM. O capitão Glauco puxou a fila de "príncipes" acompanhado de Lucimar Cardoso, debutante portadora de necessidades especiais. Beltrame dançou com Ana Carolina da Silva, que mora com 11 parentes na mesma casa, no alto da Providência. "Ele até que dançou bem, não teve nenhum problema", afirmou a estudante. "Esta festa é um sonho. Meus pais não teriam condições de me proporcionar algo assim", disse.

Além de comemorar o fato de que moradores de áreas que eram consideradas de risco "poderem voltar a sonhar", Beltrame disse que a festa trouxe lembranças de sua época de adolescente em Santa Maria (RS). "A nossa diversão eram os bailes da cidade, e os pais ensinavam os filhos a dançar. Já fui 'príncipe' pelo menos cinco vezes", disse o secretário.

Depois da primeira dança com os oficiais, as "princesas" da Providência continuaram no salão, ao som de "Danúbio Azul", embaladas por parentes. "A festa está bem melhor do que eu tinha sonhado", afirmou Maria das Graças, 60 anos, avó da debutante Laila Martins. "Estou gostando de tudo, do lugar, das roupas... Valeu a pena", disse Laila. Após a valsa, o DJ atacou de músicas dançantes e até funk, ritmo que já embalou bailes patrocinados por traficantes na favela. Na noite de sábado, porém, a pista foi dividida só entre moradores de bem e os novos "príncipes".

Próxima festa já tem lista de espera
Presente na festa, o comandante-geral da PM, Mário Sérgio Duarte, confirmou que pretende levar, no ano que vem, a ideia do baile das debutantes para as outras 11 UPPs já instaladas no Rio. "A polícia vai atuar nessas comunidades como um cimento onde há segregações. Eventos como os de hoje demonstraram isso e serão reproduzidos", afirmou. Locais, datas e o formato dos eventos, porém, ainda serão estudados.

Segundo o capitão Glauco, que teve a ideia da festa, pelo menos o baile da Providência do ano que vem já está garantido. "Já temos até lista de espera", diz o policial, que começou a organizar o evento após o fim dos bailes funk patrocinados pelo tráfico que aconteciam na favela.

Até o ano que vem, talvez, mais fotógrafos da própria comunidade podem estar entre os que vão registrar a festa. No evento de sábado, um grupo de cerca de dez jovens fotógrafos amadores que moram na comunidade registraram os momentos mais marcantes da noite.

Eles fazem parte de um projeto da instituição "Favela Arte", coordenado pelo fotógrafo Maurício Hora, 41 anos, primo de um dos três rapazes da favela mortos após serem entregues por militares do Exército a traficantes da comunidade do Morro da Mineira, no Catumbi, em junho de 2008. O projeto tem apoio do fotógrafo francês J.R., que fez em 2008 a exposição "Heroínas" na favela, na qual rostos de mulheres da comunidade, registrados pelo europeu, foram estampados em algumas casas da área que podiam ser vistas do asfalto.

http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4625171-EI5030,00-PMs+viram+principes+em+baile+de+debutantes+em+UPP+no+Rio.html

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